É ilógico esperar que a indústria de remédios faça investimentos para vender menos. De modo análogo, farmácias e drogarias, que são remuneradas com uma porcentagem do valor de suas transações, tampouco têm interesse em que o mercado de medicamentos fracionados se torne uma realidade.
A venda fragmentada, que permite ao paciente adquirir a quantidade exata de remédio de que precisa, é boa para a saúde pública e para o consumidor, que pouca condição tem de influir nesse mercado. Daí a necessidade de o poder público exigir da indústria que coloque medicamentos fracionados nas prateleiras das farmácias.
Preocupa a aprovação pela Câmara dos Deputados de um substitutivo ao projeto de lei de medicamentos fracionados que dispensa os laboratórios da obrigatoriedade de produzi-los. Se o mecanismo não for reintroduzido, a venda na dose desejada pelo consumidor não sairá do papel.
A idéia de fracionar os medicamentos é inatacável. O paciente economiza por não comprar remédios desnecessários -gastar menos com drogas também é sinônimo de maior aderência ao tratamento. Ao deixar de estocar em casa sobras de remédios, o consumidor fica menos sujeito a riscos como a automedicação e a ingestão involuntária.
Esse último ponto pode parecer desimportante, mas não é. Dados do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Hospital das Clínicas da USP indicam que pouco mais de 45% dos quadros de intoxicação assistidos pelo órgão são provocados por remédios, que superam em muito itens como produtos químicos, materiais de limpeza, agrotóxicos e drogas ilícitas.
É preciso que o Brasil siga os bons exemplos do mundo e desenvolva seu mercado de fracionados. E o único modo de fazê-lo é criar a oferta e estimular médicos e consumidores a procurá-la.
Editorial Folha de São Paulo (17/jul/2007)