17 maio 2009

SOCORRO AO PROFESSOR

A educação básica no Brasil ainda é precária, em particular nas redes oficiais de ensino. Mediocridade e letargia se patenteiam a cada resultado da pletora de exames e índices surgidos na última década. Bem encaminhada a meta da universalização do acesso e superada a controvérsia sobre avaliações de desempenho, resta roer o caroço duro do próprio aprendizado.

A batalha terá de ser vencida com uma estratégia de requalificar professores e remunerá-los melhor. Essa classe desprestigiada já se vê, contudo, acossada por outra conflagração: a indisciplina, quando não a agressão praticada por uma parcela dos alunos.

O aumento da violência juvenil é um problema das sociedades contemporâneas que não afeta apenas a escola. Agrava-se conforme pais de todos os estratos se omitem e transferem a responsabilidade primeira pela socialização de crianças e jovens ao educador.

O tumulto de quinta-feira entre policiais militares e estudantes numa escola estadual da capital paulista constitui apenas mais um episódio a lamentar, não exceção. Após erupção semelhante em novembro, o governo estadual prometera um plano antiviolência, que até hoje não veio a público. Levantamento do sindicato de diretores Udemo indicou que 86% das 683 escolas que responderam a questionário (de um total de 5.300) tinham vivido casos de violência.

Combater a escalada implica afrontar a mescla de democratismo e leniência que tomou de assalto o aparelho educacional brasileiro. Tornou-se pedagogicamente incorreto lançar mão de medidas disciplinares. O diálogo por certo representa o melhor caminho, mas não quando se trata de ameaça ou desrespeito ao professor.

Em nome de incentivar a afirmação da individualidade do aluno, tolera-se todo tipo de abuso. Não é só de guias curriculares que necessita o docente, mas de orientação prática e eficaz sobre como proceder em casos disciplinares, dos simples aos graves. Todo projeto pedagógico tem de implementar medidas para assegurar a tranquilidade e a concentração sem as quais não há aprendizado possível.

É injusto deixar só com os professores mais essa responsabilidade. Eles em geral figuram entre as vítimas dessa deterioração no convívio. Para reconquistar o prestígio em erosão, não é só de salários, carreiras e bônus que precisam, mas da intervenção decidida das autoridades educacionais na questão da disciplina.

Cabe a elas rever gradação, condições e limites das punições aplicáveis, criar procedimentos para situações excepcionais e também serviços especializados de assistência ao professor ameaçado. Sem esse mínimo de garantias, cada vez menos talentos estarão dispostos a seguir a carreira de professor, decisiva para reduzir a iniquidade social no país.

Editorial do Jornal Folha de São Paulo (17/05/2009)

www.folha.com.br

10 maio 2009

BREVE HISTÓRIA DA VIDA

No princípio era um sonho

Tudo começou na luz da lamparina

Sonhei ser capaz de transmontar

O sol e o instante

Tornar possível o impossível

Somos homens, mulheres e feras

Castigados por noites e açoites.

Por quantas estradas teremos de caminhar?

"Quantas vezes teremos de olhar para cima

Antes que consigamos enxergar o céu?"

Não sei.

Apenas sei que o mundo recomeça

No quintal dos nossos ombros.

Um sorriso aberto em todos

Numa vibração de flores e corações.

Quando cintilam as estrelas mágicas

No silêncio sideral do infinito

Surgem os pálidos semblantes da saudade!

Que grande ideal, amargamente conquistado

Quanta alegria existe

Nos olhares melodiosos destes formandos.

Enfim, atingimos nosso objetivo.

O fim que sonhávamos chegou

Agora aquilo que nos era fim

Torna-se novamente o princípio

Porque a vida é um periodismo

Novos sonhos,novos caminhos,novas conquistas

Tudo recomeça, pois o brilhantismo da vida

É sonhar além do horizonte.

Aliandro Carter, reescrito em 22/01/09.

09 maio 2009

DISCURSO DE FORMATURA DO CURSO DE FARMÁCIA

Inicio este discurso saudando e agradecendo a todos os presentes, pais, professores, convidados e demais formandos, por este momento, certamente único e inesquecível.

Estamos aqui neste dia para registrar o triunfo da esperança e dos sonhos que nutrem e acalentam os homens e as mulheres formandos, apresentando à comunidade nossa luta e trajetória para atingir os ideais - a nossa formação acadêmica. Orgulhamo-nos de ter vencido os obstáculos para agora diante dos senhores e senhoras compartilharmos a glória de uma vida dedicada ao conhecimento e à educação.

É alentador saber que a educação, que muitas vezes é negligenciada pelo poder público, é o único instrumento capaz de fazer mudanças radicais. Mudanças que têm como foco o desenvolvimento de famílias socialmente organizadas e de uma sociedade mais justa e igualitária. Estamos diante do desafio da construção dessa sociedade. Na edificação de uma nova concepção de sociedade globalizada, com valorização da diversidade cultural, da pluralidade lingüística, da liberdade religiosa e da defesa dos direitos da pessoa humana. Temos uma responsabilidade enquanto farmacêuticos em participar de forma ativa, no exercício das nossas atribuições, contribuindo para salvaguardar a saúde pública e todas as ações que visam a promoção da saúde à comunidade.

A Universidade Federal do Maranhão é uma visível base dessa transformação social. Foi o palco onde nos mantivemos unidos durante esses cinco anos, discutindo e confrontando idéias para construção do conhecimento, buscando superar os limites que sombreiam nossas condições de vida, para que no exercício profissional possamos aplicar esse conhecimento ao bem-estar de todos.

É indispensável de nossa parte o agradecimento aos professores, aos servidores e auxiliares, enfim, à Universidade como um todo. Entretanto, é extremamente importante o nosso obrigado precípuo à sociedade, que acreditou e investiu em nossa educação, através de onerosos impostos, visando exatamente à melhoria do nosso Estado.

O nosso desafio não está terminado, apenas iniciamos uma nova fase, uma nova era de responsabilidades. Certamente não nos acovardaremos diante dos novos embates e não nos furtaremos para com nosso dever.

É possível sonhar. Sonhe. Ainda que por um segundo. Ouse. Vá além dos obstáculos imediatos, mesmo diante dos perigos comuns. Pois aquilo que nos diferencia não são os perigos, nem o tamanho do sofrimento, porém a nobreza do espírito humano está na forma como encaramos os desafios e, apesar de tudo, somos capazes de continuar. Mesmo quando o mundo nos parece perdido.

É com esse entusiasmo e esses semblantes vívidos que resistirão ao tempo, fixos em nossa memória, que encerro o discurso do Curso de Farmácia, Turma Prof.ª Ana Cláudia Sampaio Costa Bastos, lembrando as palavras eternas de William Shakespeare: "Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado".

Muito obrigado.